Palavra puxa palavra com Ana Bochicchio
By admin in Comunicação Corporativa,Comunicação técnica
PALAVRA PUXA PALAVRA COM...
ANA BOCHICCHIO
Ana Bochicchio nasceu em Lisboa em 1970, mas cresceu no Brasil, entre as cidades de São Paulo e Curitiba. Em 1988, voltou a Portugal e iniciou os seus estudos superiores em Economia, tendo, no entanto, rapidamente percebido que o seu caminho passava pela Psicologia. Licenciou-se em Psicologia Clínica e do Aconselhamento em 1999 e, no ano seguinte, voltou ao Brasil para se especializar em Terapia Familiar Sistémica. É membro efetivo da Ordem dos Psicólogos e exerce clínica privada desde 2004, sendo psicóloga do Município de Azambuja desde 2009, onde tem integrado alguns projetos ligados à Educação e à Saúde Mental.
Foi considerando estes 18 anos de experiência de Ana Bochicchio que surgiu esta nossa conversa, tentando perceber a importância da comunicação numa área tão sensível quanto a Psicologia Clínica.
Qual a importância da comunicação na relação com o paciente?
A comunicação é uma ferramenta indispensável na interação com o paciente: sem esta, o trabalho do psicólogo seria quase impossível, no sentido de perceber o problema do outro.
A sua formação base potenciou este papel da comunicação no processo terapêutico?
Creio que sim. A atuação do psicólogo está intimamente ligada à comunicação e acredito que esta noção é clara ao longo do curso.
Desde cedo nos foi transmitido o que, na prática, depois confirmamos: que em qualquer tipo de relação que se estabelece, um dos aspetos fundamentais é a comunicação – através desta, trocamos informações, questionamos, partilhamos pensamentos e emoções.
Que mecanismos aplica para otimizar a comunicação com os pacientes?
O psicólogo socorre-se das competências básicas da comunicação para “trabalhar”, tais como a escuta ativa, a empatia e a reflexão, para tentar compreender o paciente e a situação em que se encontra, mas creio que a característica mais “desejável” num profissional de psicologia será a grande sensibilidade para ouvir e falar com as pessoas.
Sendo a terapia um processo bilateral, qual deve ser o papel do psicólogo/terapeuta no sentido de motivar uma comunicação fluida e eficaz por parte do paciente?
Tal como referi interiormente, a prática da escuta ativa e a atenção ao que o paciente não diz (comunicação não verbal) são muito importantes. Mesmo quando não comunicamos verbalmente, estamos a fazê-lo.
E finalmente, como sente estar a comunicação global da psicologia e da saúde mental em Portugal?
A saúde mental hoje é um problema mundial e não apenas um fenómeno português. Já o era antes da pandemia e a verdade é que esta veio agudizar muito mais esta urgência!
A verdade é que os governos reconhecem esta realidade, mas pouco fazem no sentido de reverter esta situação.
Dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) relatam que mais de 80% das pessoas com problemas de saúde mental não tem qualquer atendimento acessível e de qualidade! Em Portugal, segundo a Ordem dos Psicólogos, a depressão é um problema de saúde pública – o que, direta ou indiretamente, afeta a todos. Aliás, a OMS descreve-a como o problema de saúde mais frequente, sendo a principal causa de incapacidade no mundo.
Perante estes dados, compreendemos que é urgente que a saúde mental seja vista como prioridade.
Claro que muita coisa mudou – a própria Ordem dos Psicólogos tem tido um papel fundamental nesta questão – mas há ainda um longo caminho a percorrer a nível dos apoios efetivos, mas também de uma comunicação mais clara e eficaz sobre todas as complexas dimensões da saúde mental.