Liliana Pereira é mãe de três filhos, licenciada em Engenharia Mecânica e formada em Coaching Executivo, sendo certificada pela SUN (Success Unlimited Network) como Advanced SUN Coach. Tendo como propósito ajudar pessoas, equipas e organizações que se querem transformar na direção do sucesso, fomos perceber como é que, para esta profissional, a comunicação pode ser uma aliada dos processos de coaching.
Nos últimos anos, o coaching tem tido uma mediatização e viralização elevadas, com opiniões muito controversas. Como sentes que é atualmente encarada esta área?
Sinto que o conhecimento sobre o que é o coaching e para que serve ainda é muito escasso e que existem diversas interpretações, umas mais acertadas que outras. As pessoas ainda não sabem muito bem como distingui-lo de outras áreas de desenvolvimento pessoal e profissional, como a psicologia, a mentoria, a consultoria ou a formação.
É uma questão que já me incomodou mais. É uma profissão relativamente nova e é natural que os entendimentos se dividam. Existem organizações internacionais (como a ICF) que regulam a profissão e que têm tido um papel muito importante na definição de coaching e na comunicação para o público.
Considerando tanto a tua marca pessoal quanto a comercial, quais os esforços comunicacionais que fazes para esclarecer e informar sobre a pertinência do coaching?
Aproveito todas as oportunidades!
No passado, já estive mais presente nas redes sociais, comunicando mais sobre o que é o coaching e o que não é. Atualmente, aproveito as conversas, pessoais e profissionais, para esclarecer o conceito, o processo e a sua utilidade.
Quando conheço alguém que está potencialmente interessado em coaching, ofereço sempre a primeira sessão, para que a pessoa experimente, perceba as vantagens e potencialidades e onde esclareço conceitos e respondo a todas as questões que a pessoa possa ter.
Num processo de coaching, qual a importância que a comunicação tem na relação com o cliente?
A comunicação é um ingrediente essencial para o sucesso de um processo de coaching. A relação entre o coach e o cliente deve ser de grande proximidade e depende da interação entre ambos, via comunicação verbal e não verbal.
Na relação de coaching tudo é comunicação: as palavras, os silêncios, as expressões, o tom de voz e a linguagem corporal. A atenção a estes aspectos permite que o coach oiça o que o cliente diz e não diz, de forma a dar feedback, questionar ou clarificar.
Por outro lado, para além de estar atento e de saber ouvir, o coach também deve saber comunicar com eficácia, de forma clara, objetiva e gentil. A forma como devolve, resume e questiona é essencial para a construção da relação e para apoiar o cliente a conhecer-se e a chegar aos seus objetivos.
Aplicas algumas técnicas específicas com clientes que apresentem uma comunicação mais contida e que, como tal, possam condicionar o processo de coaching?
Na minha experiência, uma comunicação mais contida de um cliente não tem de condicionar necessariamente um processo de coaching. A presença do coach durante uma sessão, a empatia, e curiosidade e o espaço para o silêncio, são essenciais para construir a relação e para que a comunicação seja eficaz.
Conhecendo e experienciando, é inegável o impacto que o coaching pode ter em nós, até a nível da comunicação e da liderança. Para quem ainda equaciona esta área, que mais-valias destacas a estes níveis?
Os resultados de um processo de coaching são sempre únicos e pessoais e dependem dos objetivos específicos que cada cliente quer atingir. Baseando-me na minha experiência com alguns clientes, posso dizer que o coaching pode ajudar a melhorar a capacidade de ouvir, de criar e manter relações, de dar feedback, de tomar decisões, de negociar e de gerir a vida com equilíbrio.
Se o coaching pudesse ser sintetizado em três palavras, quais seriam elas?
Antes de mais, existem duas questões a considerar no escrever ‘bem’ em ambiente profissional, já que muitas pessoas acreditam que:
basta ‘saber escrever’ para o conseguirmos fazer efetivamente bem em qualquer contexto
‘escrever bem’ é muito subjetivo, dependendo da apreciação de quem lê.
Abordando já o segundo ponto, é verdade que ‘gostar’ ou não de um texto depende de uma série de fatores, mas vamos considerar que ‘escrever bem’ – sobretudo em ambiente corporativo – pressupõe o cumprimento de regras estruturais, lexicais, gramaticais e de sintaxe. E, só considerando esta premissa, podemos responder já à questão que este artigo lança: não, nem sempre escrevemos bem nas nossas empresas.
Além disso, é essencial termos em conta que ‘escrever em ambiente profissional’ tem objetivos muito concretos, tais como:
transmitir eficazmente a mensagem – que nem sempre é simples, sobretudo em ambientes de maior tecnicismo
otimizar o processo de escrita – no meio de tantos afazeres profissionais, é essencial que consigamos agilizar a redação de emails e restantes documentos
sintonizar tom, forma e conteúdo nas diversas plataformas escritas
reforçar a persona corporativa – seja de forma óbvia ou subliminar, é importante que a identidade da marca esteja garantida na redação.
Figura 1 - objetivos da escrita profissional
Mas o que é isto de ‘sintonizar tom, forma e conteúdo nas diversas plataformas’? Não é mais que evitarmos a famosa ‘manta de retalhos’ que encontramos em tantas empresas – em que, por exemplo, o estilo redatorial adotado no site não se espelha nas formas de escrita nas redes sociais, ou nos próprios emails. Sim, é realmente importante que as empresas cuidem das suas formas de escrita (e que, para isso, formem os seus colaboradores) para que elas sejam um espelho da sua identidade.
"Acusamos a sua comunicação, que mereceu a nossa melhor atenção"...
Se “adaptar à persona corporativa” deveria ser a regra número 1 da comunicação escrita (sobretudo em ambiente profissional), “simplificar” seria a segunda (ou estaria idealmente em ex-aequo). E, sim, a fórmula que surge neste subtítulo representa uma considerável isenção de simplicidade e de naturalidade comunicacionais – sendo, no entanto, uma abordagem tantas vezes utilizada no seio empresarial.
Pensemos bem: a não ser em circunstâncias que têm de categorizar as comunicações tratadas (e que, ainda assim, merecem uma abordagem distinta), esta frase apresenta duas falhas estratégicas:
é redundante: é óbvio que acusamos a comunicação do interlocutor. Afinal, estamos a responder-lhe…
não acrescenta: quando recebemos qualquer informação, principalmente em resposta a uma solicitação nossa, esperamos encontrar a mensagem nuclear nas primeiras palavras. Esta abordagem obriga o leitor a usar a sua bússola mental para, navegando por palavras e frases carregadas de pouco, encontrar a informação que efetivamente lhe interessa.
Significa isto que devemos procurar uma comunicação ‘demasiado’ objetiva, sintética e isenta de empatização? Não. Muito pelo contrário, a comunicação escrita profissional pede cada vez mais uma comunicação objetiva, sim, mas humanizada. No entanto, é essencial entender que humanizar não implica redundâncias ou carências comunicacionais.
O Relatório de Tendências da Experiência de Cliente, realizado pela Zendesk, já nos trazia em 2021 uma conclusão essencial e que reforça a importância da comunicação humanizada: 49% dos consumidores valorizam empatia nos processos de venda e de comunicação geridos pelas empresas. E aqui entram, também, as nossas comunicações escritas.
Então, humanizar obriga a esforços e conhecimentos agregados no sentido da empatização, da facilitação, da objetividade e até da leiturabilidade das nossas mensagens.
Escrever profissionalmente pede mais que boa conjugação verbal, eficaz estruturação dos parágrafos e cumprimento das regras gramaticais. Além disso, uma escrita eficaz deve envolver o domínio e a boa aplicação do alinhamento textual, da utilização de alertas (os negritos, por exemplo), da alternância de parágrafos e até da perceção de como é que, afinal, os nossos olhos fazem a leitura de uma informação escrita – para melhor percebermos em que zonas do texto devemos aplicar as chamadas ‘mensagens-chave’.
Além disso, escrever com eficácia profissional implica pensar literalmente da primeira à última palavras. Daí que aproveitemos para deixar apenas (mais) uma provocação: já pensou se a fórmula que utiliza para encerrar os seus emails se enquadra realmente numa eficaz escrita corporativa? Este tema do encerramento das nossas comunicações é discutido há largos anos e levou inclusivamente a que Judith Kallos, consultora de negócios, considerasse a tradicional fórmula ‘cumprimentos’ como dando ‘a impressão que não se sabe o que dizer‘. Ou seja, a (suposta) inocente forma como nos despedimos nos nossos emails é, como se percebe, mais importante do que à partida nos parece.
Voltando, então, à questão que aqui lançamos: escrevemos ‘bem’ nas nossas empresas? Nuns casos, sim. Em muitos outros, nem por isso. Mas a boa notícia é que, bem vistas as coisas, com o conhecimento certo, nem é assim tão difícil começar a fazê-lo!
Ana Bochicchio nasceu em Lisboa em 1970, mas cresceu no Brasil, entre as cidades de São Paulo e Curitiba. Em 1988, voltou a Portugal e iniciou os seus estudos superiores em Economia, tendo, no entanto, rapidamente percebido que o seu caminho passava pela Psicologia. Licenciou-se em Psicologia Clínica e do Aconselhamento em 1999 e, no ano seguinte, voltou ao Brasil para se especializar em Terapia Familiar Sistémica. É membro efetivo da Ordem dos Psicólogos e exerce clínica privada desde 2004, sendo psicóloga do Município de Azambuja desde 2009, onde tem integrado alguns projetos ligados à Educação e à Saúde Mental.
Foi considerando estes 18 anos de experiência de Ana Bochicchio que surgiu esta nossa conversa, tentando perceber a importância da comunicação numa área tão sensível quanto a Psicologia Clínica.
Qual a importância da comunicação na relação com o paciente?
A comunicação é uma ferramenta indispensável na interação com o paciente: sem esta, o trabalho do psicólogo seria quase impossível, no sentido de perceber o problema do outro.
A sua formação base potenciou este papel da comunicação no processo terapêutico?
Creio que sim. A atuação do psicólogo está intimamente ligada à comunicação e acredito que esta noção é clara ao longo do curso.
Desde cedo nos foi transmitido o que, na prática, depois confirmamos: que em qualquer tipo de relação que se estabelece, um dos aspetos fundamentais é a comunicação – através desta, trocamos informações, questionamos, partilhamos pensamentos e emoções.
Que mecanismos aplica para otimizar a comunicação com os pacientes?
O psicólogo socorre-se das competências básicas da comunicação para “trabalhar”, tais como a escuta ativa, a empatia e a reflexão, para tentar compreender o paciente e a situação em que se encontra, mas creio que a característica mais “desejável” num profissional de psicologia será a grande sensibilidade para ouvir e falar com as pessoas.
Sendo a terapia um processo bilateral, qual deve ser o papel do psicólogo/terapeuta no sentido de motivar uma comunicação fluida e eficaz por parte do paciente?
Tal como referi interiormente, a prática da escuta ativa e a atenção ao que o paciente não diz (comunicação não verbal) são muito importantes. Mesmo quando não comunicamos verbalmente, estamos a fazê-lo.
E finalmente, como sente estar a comunicação global da psicologia e da saúde mental em Portugal?
A saúde mental hoje é um problema mundial e não apenas um fenómeno português. Já o era antes da pandemia e a verdade é que esta veio agudizar muito mais esta urgência!
A verdade é que os governos reconhecem esta realidade, mas pouco fazem no sentido de reverter esta situação.
Dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) relatam que mais de 80% das pessoas com problemas de saúde mental não tem qualquer atendimento acessível e de qualidade! Em Portugal, segundo a Ordem dos Psicólogos, a depressão é um problema de saúde pública – o que, direta ou indiretamente, afeta a todos. Aliás, a OMS descreve-a como o problema de saúde mais frequente, sendo a principal causa de incapacidade no mundo.
Perante estes dados, compreendemos que é urgente que a saúde mental seja vista como prioridade.
Claro que muita coisa mudou – a própria Ordem dos Psicólogos tem tido um papel fundamental nesta questão – mas há ainda um longo caminho a percorrer a nível dos apoios efetivos, mas também de uma comunicação mais clara e eficaz sobre todas as complexas dimensões da saúde mental.
Intranet. Como é que uma palavra tão pequena nos consegue dar tantas ‘dores de cabeça’? Teoricamente, a intranet tem tudo para ser a ‘estrela’ da comunicação interna: agrega toda a informação numa única plataforma, engloba os documentos e templates de uso mais regular e até nos permite acesso rápido a elementos que, de outro modo, nos poderia obrigar a contactos e pesquisas que apenas comprometeriam a nossa (já difícil) gestão de tempo. Então, porque é que a intranet não tem, na maioria das empresas, o uso e o resultado desejados? Porque é que as pessoas passam dias (ou semanas) sem lá entrar ou, se entram, não dão sequer importâncias às novidades mais recentes que as empresas por lá vão partilhando?
[Quer realmente saber porquê (é que a resposta pode não lhe agradar…)? Bem, há uma probabilidade imensa – mas imensa! – de que a intranet não esteja a ser gerida como suposto.]
Mas, antes de mais, contextualizemos para depois afunilarmos. A história da intranet remonta à década de 1990, quando as empresas começaram a utilizar a tecnologia da Internet para criar redes internas, com vista à partilha de conteúdos e recursos com as ‘suas pessoas’ – permitindo acesso seguro e controlado às informações corporativas e facilitando ainda a comunicação e colaboração entre funcionários, mesmo que geograficamente dispersos.
Com o passar dos anos, a intranet evoluiu para uma verdadeira ferramenta de comunicação, possibilitando a inclusão de chats e de sistemas de informação e de gestão de negócios de alta complexidade.
Claro que as tecnologias utilizadas na intranet variam de acordo com as necessidades de cada empresa ou organização, mas algumas das mais comuns incluem:
HTML, CSS e JavaScript
Servidores web
Banco de dados
Sistemas de autenticação e autorização
Sistemas de segurança
Sistemas de integração
Ferramentas de colaboração.
Percebe-se, então, que a intranet é, na maioria das vezes, uma ferramenta de alta complexidade a nível técnico e logístico – mas também, como veremos, de gestão.
Quais são as maiores fragilidades da intranet?
Em maio de 2021, e na sequência de um projeto de reestruturação da intranet de um cliente, a PLUG More realizou um estudo junto de 51 empresas e organizações a atuar em Portugal, concluindo-se as seguintes maiores fragilidades da intranet:
Atualização e manutenção: manter a intranet atualizada na devida regularidade pode ser desafiador e requer tempo e recursos.
Conteúdo: garantir conteúdos que interessem efetivamente aos colaboradores (para além daqueles que ‘têm de ser’ publicados) é uma dificuldade em muitos ambientes corporativos.
Personalização: adaptar a intranet às necessidades específicas de departamentos, grupos e pessoas nem sempre é fácil (e requer, uma vez mais, conhecimento, tempo e recursos).
Integração: integrar a intranet com outros sistemas e aplicações de negócios é essencial, mas pode ser complexo em alguns ambientes.
Profissionalização: alguns sistemas de intranet encontram-se ainda em versões mais clássicas ou tradicionais, impossibilitando a resposta às atuais necessidades comunicacionais dos colaboradores.
Eficácia gráfica: não há forma de se descurar o peso da ‘neurocomunicação’ e do modo como o grafismo e a estruturação dos conteúdos pode motivar (ou condicionar) a predisposição dos colaboradores para lerem as informações – algo que ainda não é devidamente trabalhado em bastantes empresas.
Adoção: alguns colaboradores revelam dificuldade em adotar e usar a intranet correta e regularmente, o que leva a uma menor eficácia da ferramenta.
Percebendo estas fragilidades, entendemos também um pouco melhor o caminho que não devemos seguir (dentro dos recursos disponíveis) com a nossa intranet. Mas, sim, ainda restam dúvidas: na prática, o que devemos, então, assegurar nesta plataforma?
De acordo com o especialista Michael Schweitzer, um portal de Intranet eficaz (e realmente orientado para o colaborador) é aquele que cria cultura e dá poder aos funcionários para fazerem mais, com maior envolvimento e com foco tanto na produtividade quanto na satisfação do cliente final.
O B-A-BA da intranet eficaz!
Antes de mais, consideremos que este B-A-BA é genérico, englobando as boas práticas que, por norma, devem ser asseguradas numa intranet. No entanto, é essencial que exista uma estratégia adaptada às características, às especificidades, às necessidades, aos recursos e, claro, às eventuais limitações de cada empresa.
Mas, de uma forma geral, podemos dizer que uma intranet eficaz e eficiente deve:
Fornecer aos colaboradores também a informação que eles desejam (e não apenas a que interessa à empresa)
Manter atualizações diárias
Direcionar o público alvo (com conteúdos para ‘todos’ e para ‘alguns’)
Garantir objetivos comunicacionais (informar, persuadir à leitura e entreter – no sentido de incluir conteúdos humanizados)
Assegurar a relevância dos conteúdos (sim, nem tudo é ‘notícia’ para a intranet…)
Promover a criatividade gráfica e editorial (alternando os conteúdos tradicionais ou clássicos com infográficos, vídeos, quizz, etc…)
Profissionalizar o grafismo (no sentido de induzir à motivação de visitar, ler e aprofundar a intranet).
No entanto, e a par com estas medidas, é essencial que as empresas garantam o cumprimento da sua persona na intranet – afinal, aquela plataforma deve representar a empresa em todas as suas dimensões: tom, forma e conteúdo.
E, como complemento, deixamos mais duas sugestões que, quando implementadas, ajudam realmente a profissionalizar a gestão da intranet:
constituição do ‘comité de coordenação’ da intranet – com uma figura nuclear enquanto coordenadora e identificação de pontos de contacto em cada departamento (com vista a garantir o envolvimento de todos na ‘alimentação’ da plataforma)
elaboração do Manual de Normas da Intranet (sim, estamos todos cansados de manuais de normas, mas acredite que este tem especial utilidade. Podendo ser muito objetivo e curto, este documento esquematiza as regras e formas de gestão e atualização da intranet, definindo modelos e responsabilidades).
Depois disto, voltamos ao início: é essencial que a intranet seja um espelho (positivo!) da empresa e que responda às necessidades e diferenças dos colaboradores – o que obrigará, idealmente, a uma visão altamente estratégica para que se configure de algo que traz, realmente, mais-valia às pessoas que a utilizam.
1. O que envolve a comunicação interna? 2. Ferramentas de segmentação dos públicos 3. Impacto cognitivo da comunicação interna 4. Endomarketing e comunicação interna 5. O plano de comunicação interna 6. Métricas comunicacionais – KPIs quantitativos e qualitativos 7. O comité de comunicação interna 8. Estratégias comunicacionais – Ações e táticas 9. Monitorização do impacto
Pedro Cordeiro Ferreira é coautor do livro “Psicologia para não Psicólogos” e professor convidado no INDEG-ISCTE Executive Education, sendo atualmente Diretor Comercial da Coresa. Licenciado em Gestão pelo ISCTE, iniciou a sua carreira profissional em Consultoria, ingressando depois na Henkel, onde desempenhou funções no departamento de Marketing e Vendas. Considerando os mais de 20 anos de experiência no setor comercial, fomos perceber qual a importância que este profissional atribui à comunicação na sua área de atividade.
De que forma é que a comunicação corporativa pode facilitar a estratégia comercial?
A comunicação corporativa é a voz da empresa para o exterior e para o interior da mesma. Nesse sentido, o seu impacto na estratégia comercial é enorme. Para o exterior porque é um veículo gerador de credibilidade e de notoriedade da empresa e das suas marcas. Para o interior porque facilita o alinhamento das partes, ajudando a enraizar a cultura da empresa. Marcas credíveis e equipas motivadas, eficazes e ágeis levam a resultados excecionais!
Sentes que a rede de vendas se influencia pelos resultados da comunicação das marcas – seja pelas notícias fruto da assessoria de imprensa ou pelos níveis de engagement nas redes sociais?
Acredito que o sucesso dos resultados começa dentro de casa. Uma equipa comercial não convencida, não consegue convencer ninguém!
O plano de comunicação das marcas (seja ele above ou belowtheline) constitui um forte argumento comercial e, nesse sentido uma fonte motivacional para as equipas comerciais, dado os resultados que provoca nos clientes diretos e nos consumidores finais. Contudo, para que este seja eficaz, necessita de ser lido por todos como coerente com a estratégia das marcas e de ser planeado com antecipação, entre os vários departamentos (marketing, comercial, aprovisionamento…). É aqui que muitas empresas falham!
Quando defines uma estratégia comercial tens a preocupação com o suporte da estratégia comunicacional? Se sim, a que níveis?
Sem dúvida. No FMCG (Fast Moving Consuming Goods) como em muitos outros mercados, a ligação da comunicação dentro do ponto de venda (momento onde se concretiza a compra) com a comunicação fora da loja (momento em que se angaria o shopper e se faz a lista de compras) é determinante para o sucesso dos resultados. Por isso, aquando do planeamento operacional da estratégia comercial, é essencial coordenar as atividades comerciais (promoções, visibilidade extra…) com as atividades de comunicação (dentro e fora do ponto de venda).
Dando um exemplo em concreto. Bom Petisco é patrocinador da liga surf pro, tendo mesmo a última etapa o nome da marca. Nesse evento, muitos são os momentos em que a marca está ativada, seja na TV, seja nas redes sociais ou no local. Ora sob ponto de vista comercial, as equipas preparam este momento de forma variada, potenciando e aproveitando o investimento realizado em comunicação. Podem negociar espaços extra nas lojas da região, decorando-os a preceito, podem lançar campanhas promocionais com ofertas relacionadas com o evento, podem distribuir vales de desconto no local para estimular a compra de artigos da marca na loja, podem criar campanhas especiais na loja online… é na interligação perfeita destes investimentos que se atingem os maiores ROI’s ( return on investment).
E a nível da comunicação com o cliente/consumidor, quais são as principais premissas para um reforço eficaz da estratégia comercial?
O profundo conhecimento do cliente/shopper (quem são?; como como compram?; o que os faz decidir entre as marcas?; quanto compram?; qual a imagem que têm da categoria e respetivas marcas?…) e a capacidade de moldar a comunicação a esse conhecimento é a principal premissa para tornar a comunicação numa arma eficaz na estratégia comercial.
Acreditas que as marcas que operam em Portugal têm um bom equilíbrio entre as estratégias comercial e comunicacional?
Portugal tem um elevado número de micronegócios (representam 96% do tecido empresarial português). Na maioria deles, as despesas fixas não os deixa ter uma esperança média de vida superior a 2 anos e falta de competência de gestão e liderança é notória. Por isso, é natural que ainda haja muito para fazer no que diz respeito à ligação e equilíbrio entre as estratégias comercial e comunicacional.
A formação e a gestão dos novos veículos comunicacionais e comerciais (bastante mais acessíveis do que os meios tradicionais) deverá ser o ponto de partida para garantir esse equilíbrio no futuro.
Numa era em que o mundo digital parece dominar todas as formas de comunicação, ainda faz sentido apostar nos meios tradicionais? Sem rodeios, respondemos já que SIM!
A comunicação corporativa pode ser definida como o conjunto de atividades realizadas por uma marca ou empresa para promover a sua imagem e os seus produtos ou serviços, bem como para se relacionar com funcionários, clientes, parceiros, media e outros ‘stakeholders’ – ou seja, basta esta definição para entendermos que, sim, a comunicação dita tradicional continua a fazer sentido, sobretudo quando se pensa numa abordagem 360 ou transmedia. No entanto, isto implica uma mudança nas tradicionais ‘formas de pensar e de fazer’.
É importante percebermos, antes de mais, que a comunicação corporativa tem vantagens específicas que podem, como veremos, ser potenciadas pelo referido transmedia (ou seja, por uma estratégia aplicada a diferentes plataformas e canais – tanto tradicionais como digitais):
A comunicação corporativa na era digital
reforço da credibilidade e notoriedade da marca
fidelização de clientes
motivação, informação e formação de colaboradores
maximização da relação com ‘stakeholders’
promoção de produtos e serviços
antecipação de necessidades da comunidade
otimização de processos de gestão de crises.
No entanto, esta era digital trouxe mudanças profundas tanto nos modos de comunicar como no comportamento do consumidor, para além de profissionais e empresas cada vez mais informados, especializados e competitivos.
No livro “Comunicação Digital nos Novos Negócios”, lançado pelo IAPMEI, podemos ler que
“A nova realidade de comunicação, marcada por fatores como a interatividade, velocidade da rede, partilha de informação, comunidades, mudou a forma de passar a mensagem e de orientar as escolhas do consumidor: estamos no tempo do Marketing colaborativo e interativo focado na experiência do consumidor. O produto e o conteúdo puramente comercial deixa de ser o foco da mensagem e são substituídos pela construção da relação com a marca no ato de consumir o produto e/ou na emoção do seu uso”.
As formas de comunicar querem-se, então, distintas. Se pensarmos apenas no ramo da assessoria de imprensa, muito do que faz atualmente é diferente daquilo que conhecíamos (e praticávamos) há uma década – desde o formato das comunicações (com comunicados de imprensa em vídeo, por exemplo), à estrutura da própria redação e a uma máxima compreensão das necessidades efetivas dos media ‘em papel’ e dos media digitais.
Quais são, então, os benefícios da comunicação tradicional?
Consideremos, antes de mais, que nos referimos aos benefícios em modelo de transmedia – ou seja, em eficaz conjugação da comunicação tradicional e digital (deixando ainda a premissa de que todas as estratégias devem, obviamente, ser definidas caso a caso).
Então, nesta otimização comunicacional, a estratégia de comunicação corporativa em plataformas e canais tradicionais facilita:
a continuidade das táticas mais eficazes junto de públicos que ainda circulam nos canais convencionais
o reforço da marca e das suas mensagens em plataformas complementares às digitais (otimizando o efeito de repetição positiva)
a possibilidade de maior permanência temporal das comunicações (equilibrando o efeito ‘relâmpago’ das plataformas digitais)
o potenciar do investimento da empresa numa comunicação próxima, variada e flexível, permitindo o contacto com públicos variados e reforçando a construção de comunidades amplas.
Qual é, então, o (atual) melhor caminho? É, para a maioria das empresas e dos negócios, o da comunicação integrada – algo que, com a euforia da comunicação digital, acaba por ser muitas vezes esquecido ou negligenciado.
Esta comunicação integrada agrega, então, os seguintes elementos:
Comunicação tradicional
Comunicação digital
Comunicação interna
Estratégia concertada
Respeito pela persona
Resultados mensuráveis
Compreende-se assim, o papel essencial que a comunicação tradicional continua (ou deve continuar) a ter na estratégia corporativa – deixando o desafio às empresas de olhar para além daquilo que parece óbvio e eficaz a curto prazo. Até porque, como disse o dramaturgo George Bernard Saw, ‘o maior problema com a comunicação é a ilusão de que ela já foi alcançada’.